Talude consiste na superfície em inclinação de solo ou maciço rochoso, que pode ser natural ou uma construção humana. De modo geral, essas estruturas podem apresentar sinais de instabilidade, como as trincas de tração.

Os taludes provenientes da ação humana são efeito de cortes feitos nas encostas, escavações ou de lançamento de aterros. Essas aberturas são cumpridas com altura e inclinação apropriadas, de forma a alcançar estabilidade para a obra.

Em uma avaliação de estabilidade de taludes, são considerados possíveis mecanismos de ruptura que podem acarretar a instabilidade do projeto. É extremamente importante que os sinais geotécnicos de ruptura sejam avaliados, pois, em casos extremos, em que a ruptura realmente ocorre, vidas podem ser colocadas em risco.

Ademais, existem inúmeros custos atrelados à recuperação de áreas rompidas. Por isso, a identificação e a avaliação de sinais como as trincas de tração devem ser constantes, bem como a implementação de soluções, caso seja necessário.

Neste artigo, apresentaremos mais detalhes sobre as trincas de tração e auxiliaremos na definição de um plano de ação que vise solucionar esse problema. Para tal, conversamos com o Geólogo de Engenharia e Geotécnico Prof. Dr. Márcio Leão e com o Engo. Gelmo Chiari Costa, gerente de desenvolvimento na Belgo Geo Tech. Continue a leitura e saiba mais!

O que são as trincas de tração em taludes?

Para começar, vamos descobrir o que são as trincas de tração e o que elas representam em estruturas como os taludes. De acordo com o engenheiro Gelmo, para entender o que são as trincas de tração de forma simplista recorremos a uma analogia a ferimentos nos tecidos vivos.

“Diante de algum acidente ou esforço indevido, podemos sair da condição de normalidade e nos machucarmos com danos aos tecidos e abertura de um ferimento. Os taludes diante do binômio tensões – deformações excessivas, que são superiores à condição de equilíbrio do maciço, podem apresentar abertura de trincas de tração”, explica.

Segundo o engenheiro, estas precisam ser tratadas o quanto antes, assim como um ferimento precisa ser cuidado para dar início ao processo de cicatrização, sem maiores complicações. “Além disso, assim como nos casos de ferimentos e cicatrizes, as trincas de tração também precisam ser acompanhadas“, conclui o engenheiro.

A ocorrência de trincas não é uma exclusividade de taludes. Fissuras, trincas e rachaduras também constituem manifestações patológicas em outras estruturas, porém, neste artigo vamos nos ater ao contexto dos taludes.

Outro ponto de atenção é que, embora sejam corriqueiramente denominadas como trincas de tração, para a mecânica dos solos, via de regra, considera-se mobilização de resistência ao cisalhamento.

Do ponto de vista geotécnico, o que significa a ocorrência de trincas de tração?

De acordo com Márcio, as trincas de tração não só indicam um processo de descontinuidade do maciço geológico que forma o talude, como podem levar a processos de separação desse material.

“Essas separações levam a dois processos principais e danosos ao talude, o primeiro é a diminuição do atrito entre as partes do maciço, e consequente, a redução na resistência ao cisalhamento”, explica o geólogo. “Também há a possibilidade de se ter a trinca preenchida por água, diminuindo o atrito das partes, e aumentando a pressão, acarretando possíveis propagações da trinca”, complementa.

Quais sinais geotécnicos podem indicar as instabilidades e as trincas?

Para Márcio, é importante entender que, quando há o desenvolvimento da trinca, ela corresponde a algum tipo de alívio que o maciço teve.

Além disso, também é natural que se considere que a trinca pode ser pontual, mas ela também pode estar desencadeando uma superfície de escorregamento na superfície externa do seu maciço. Essa deformação na estrutura pode ser facilmente visualizada ao observarmos o surgimento de novas trincas, ou o embarrigamento da superfície externa.

Inclusive, em alguns casos e dependendo do movimento que está sendo produzido em função da instabilidade, é possível notar a inclinação de postes, cercas e árvores, indicando um movimento lento da superfície de escorregamento.

Por que as trincas de tração são preocupantes?

Como já mencionado por Márcio, há uma evidente necessidade de buscar soluções para as trincas de tração assim que elas surgem. Para entendermos isso melhor, vale falarmos um pouco sobre as causas que podem levar ao seu surgimento.

A estabilidade de taludes pode ser governada por uma série de fatores. Entre eles, temos os chamados fatores condicionantes, que são características intrínsecas aos materiais naturais e que podem ser avaliadas, em sua grande maioria, na investigação geológico-geotécnica. Temos também os fatores desencadeantes, que são mecanismos externos que atuam alterando propriedades e condições de equilíbrio do talude.

O conjunto de ações, ou a ação individual dos fatores desencadeantes e dos condicionantes, podem levar à instabilidade e ao surgimento de sinais de instabilidade em taludes.

“Por mais que a ação de alguns fatores possa ser minimizada no projeto da estrutura, é importante que o responsável esteja sempre atento a possíveis problemas de instabilidade que possam ocorrer naturalmente com o tempo”, explica Márcio.

Gelmo explica que, além das trincas de tração presentes na porção superior de taludes, “deformações, estufamentos da porção inferior e surgimento de água na face de um talude também não devem ser negligenciados”.

De acordo com o especialista, tais sinais precisam ser avaliados pelo engenheiro geotécnico, notadamente em situações com envolvimento de riscos. Entre os sinais de caráter geotécnico, as trincas de tração merecem especial preocupação, de acordo com sua avaliação.

“Isso porque as trincas de tração potencializam os problemas de instabilidade de taludes à medida que estes vazios são preenchidos por água das chuvas, gerando uma pressão hidrostática que joga contra a estabilidade do maciço”, conclui Gelmo.

Uma vez constatada a ocorrência das trincas de tração, que medidas podem ser tomadas?

De acordo com Márcio, dependendo do nível da trinca, é possível selar a trinca, preenchendo-a com solo. Porém, caso seja observado que a trinca está conectada a algum tipo de desenvolvimento de superfície de ruptura, são necessárias outras intervenções.

Entre essas outras intervenções, você tem opções que vão desde incluir elementos de reforço para melhorar as propriedades do maciço até mesmo construir estruturas como muros de arrimo.

Além das soluções apontadas pelo engenheiro, a literatura técnica da área indica outras como o uso de cortinas ancoradas, que são estruturas de concreto armado combinadas com a execução de tirantes que, por sua vez, fazem a ancoragem do muro junto ao maciço.

Projetistas de obras geotécnicas consideram a possibilidade de trincas de tração?

Márcio salienta que, apesar de todo projetista ter um bom conhecimento técnico, ele está trabalhando com um meio natural, que é muito imprevisível. Portanto, a melhor forma de tentar se antecipar a esses eventos é por meio da inspeção e do monitoramento regular.

“É necessário levar em conta que nem sempre o surgimento de uma trinca em um talude vai significar que este está em processo de instabilização imediata”, esclarece. A ruptura leva anos para ocorrer, então, às vezes resolvendo o processo de uma trinca, é possível cessar a movimentação e reequilibrar as forças do talude.

Por isso, é muito importante ter o acompanhamento técnico para monitorar e sanar eventuais trincas de tração que venham a surgir, antes que se tornem um problema maior.

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