Quem trabalha com Engenharia Geotécnica precisa conhecer a fundo os diferentes tipos de taludes. Afinal, a falta de informações sobre as particularidades do solo ou maciço rochoso e condições que afetam a sua estabilidade podem acarretar em tombamentos com potencial desastroso.
Pensando em elaborar um conteúdo informativo sobre o tema, conversamos com o Engenheiro Civil Emerson José Ananias, da Belgo Arames, que nos explicou as principais distinções entre os taludes e as soluções geotécnicas para mantê-los seguros. Confira!
Quais são os tipos de taludes?
Emerson começa nos explicando que todo talude é um plano de terreno inclinado que limita a superfície de um maciço de rocha ou de solo. Ele é a própria inclinação na face lateral de uma formação geológica, seja ela natural ou artificial, Veja a seguir como os taludes são classificados.
Talude natural
A formação de um talude natural, geralmente chamado de encosta, é originada a partir de intempéries ou da ação geológica. O declive é constituído por solo residual e/ou solo coluvionar. Os solos residuais permanecem no lugar em que foram originados, enquanto os coluvionares são resultados do transporte de materiais, sendo a gravidade o principal agente formador. Em relação à forma, os taludes naturais apresentam superfície plana ou curvilínea , com interferência do formato no fluxo preferencial de água superficial.
Talude artificial
Os taludes artificiais são aqueles construídos pelo homem, resultantes de escavações, cortes em encostas ou lançamento de aterros. O talude de corte é aquele que se formou a partir de um processo de corte, ou seja, de retirada de material. Já o talude de aterro é fruto da deposição de massas de solo com características específicas do projeto, com possibilidade de utilização de serviços de compactação em determinados casos.
Eles podem estar situados em minas a céu aberto, laterais de ruas e estradas, barragens de reservatório de água, escavações de valas para assentamento de tubulações e, ainda, fundos de casas edificadas em terrenos em aclive ou declive.
Quais as diferenças e semelhanças entre eles?
Tanto os taludes naturais quanto os artificiais são compostos pelas seguintes partes:
- crista — a parte mais alta do talude;
- pé — a parte mais baixa;
- altura do talude (H) — a diferença de cota entre o pé e a crista;
- ângulo de inclinação — ângulo formado entre a horizontal e a reta média entre o pé e a crista;
- maciço ou corpo — a parte interna do talude, cuja constituição é estudada por Engenheiros e Geólogos, no que diz respeito ao tipo de material (rocha, argila, areia, silte, etc) e suas propriedades (limite de plasticidade, coesão, etc);
- rede de percolação — a trajetória que a água percorre no maciço do talude. Essa rede é constituída de infiltrações de água próximas do talude e distantes (até muitos quilômetros) da estrutura;
- mina ou bica — afloramento de água do talude. A água infiltra no terreno, percola o maciço e aflora na superfície, geralmente no pé do talude.
Em relação às diferenças, podemos destacar o fato das características geotécnicas do solo compactado possuírem maior índice de certeza. Portanto, desde que a execução da obra seja feita de forma correta e controlada, seus cálculos de estabilidade tendem a ser mais precisos do que os de taludes naturais — que podem apresentar diversas incertezas quanto ao perfil geológico-geotécnico, principalmente se a investigação geotécnica for pobre ou inexistente.
Nos taludes em aterro, por exemplo, uma inclinação estável, sem nenhum tipo de intervenção, usualmente é de 1,5H:1V a 2H:1V, ou seja, 1,5 metros a 2 metros na horizontal para 1 metro na vertical. Este tipo de declive é muito comum na implantação de obras em região de divisa com áreas de preservação e córregos.
O talude de corte, por sua vez, tem uma inclinação média de 1H:1V, sendo que esses valores podem variar de acordo com o solo local. Sua adoção é muito comum em situações de divisa de imóvel, quando, por exemplo, deseja-se uma área de uso embaixo da escavação e há um limite de interferência dentro da propriedade vizinha.
Como evitar deslizamentos?
O Engenheiro Civil ressalta que para evitar problemas é preciso dimensionar a inclinação do terreno. Para isso, é preciso contar com um profissional com conhecimento geotécnico sólido e realizar uma investigação do solo correta.
Na investigação geotécnica, avalia-se se o solo tem resistência para permanecer em segurança na geometria projetada e constata-se a necessidade de ajustar os sistemas de drenagem, inclinação, instalação de drenos profundos, ou mesmo realizar estabilizações com introdução de reforços.No que diz respeito ao segundo aspecto, é preciso verificar as possíveis interferências do lençol freático, tubulações de calha de casa sendo direcionadas para o talude, tubulações de esgoto com vazamento, presença de rios e esgoto, etc.
Com base nessas informações, é possível determinar para o especialista que está executando a obra qual inclinação é viável para o talude — seja ela mais suave ou mais inclinada.
Já em encostas nitidamente rochosas, as descontinuidades normalmente são os elementos que determinam a estabilidade do maciço rochoso quanto a queda de materiais pétreos. Por exemplo, é preciso saber o ângulo de mergulho das descontinuidades para analisar se um determinado talude estará ou não a favor da estabilidade.
O que fazer em caso de risco de ruptura?
Mesmo com as precauções citadas acima, todos os tipos de taludes estão suscetíveis à rupturas. Caso existam riscos eminentes, deve-se inicialmente fazer o isolamento da área para que qualquer dano humano seja evitado.
Em seguida, é preciso buscar um profissional geotécnico para determinar qual tipo de intervenção será necessária. Uma alternativa é o retaludamento, que proporciona estabilidade quando não há construções no local.
Quando não for possível reconformar a encosta somente com movimento de terra, seja pela existência de uma propriedade no local, pela falta de espaço ou pela grande movimentação de terra, deve-se investir em muros de contenção. Para esses casos, podem ser usados gabiões, tirantes e cortinas atirantadas, telas, blocos de concreto, muros de concreto armado, solo grampeado e solo grampeado verde, entre outras soluções.
Como você pôde ver, para lidar com todos os diferentes tipos de talude é necessário ter um bom conhecimento geotécnico. Além de entender as propriedades e limitações do terreno, é crucial saber quais os métodos e materiais mais adequados para fazer a contenção de encostas. Dessa forma, é possível garantir a segurança e evitar prejuízos com reparos.
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