As obras de contenção são de extrema importância para evitar várias situações adversas. Mas a escolha inadequada das estruturas pode acarretar problemas iguais ou até maiores, por isso, é importante o acompanhamento profissional, a execução de algumas boas práticas e o conhecimento da legislação e das normas técnicas.

Entrevistamos o engenheiro de aplicação da Belgo Arames, Flávio Fontes da Cruz, que vai trazer os seus conhecimentos aprofundados sobre o tema. A ideia é esclarecer vários pontos sobre as obras de contenção, com destaque para as estruturas de gabião. Boa leitura!

O que são obras de contenção?

São estruturas construídas para conter e controlar a movimentação de solos, rejeitos e águas, por exemplo. Elas são projetadas com o objetivo de prevenir deslizamentos de terra, erosão, inundações ou outros eventos indesejáveis relacionados ao movimento de massa.

Na prática, as obras de contenção podem ser implementadas em diferentes contextos, como encostas de montanhas, margens de rios, barrancos, estradas e áreas urbanas. Além de estabilizar o terreno, elas ajudam a reduzir riscos geotécnicos e proteger pessoas, propriedades e estruturas contra danos.

Quais são os principais tipos de estruturas de contenção?

Dependendo da situação, é usado um tipo específico de solução de estrutura de contenção. A seguir, confira os principais!

Solo reforçado

Esta é uma abordagem responsável por aumentar a capacidade do solo na resistência em relação à tração. Na prática, são empregados componentes que visam dar resistência e segurança à estrutura em questão.

A estrutura de solo reforçado viabiliza contenções em rodovias, por exemplo, contribuindo para que o solo resista a grandes cargas. Algumas aplicações incluem:

• encontro de viadutos e pontes rodoviários;
• encontro de viadutos e pontes ferroviários;
• contenção de taludes, muros e aterros.

Solo grampeado

A base de funcionamento da estrutura de contenção do tipo solo grampeado é o uso de chumbadores. Em outras palavras, utiliza-se elementos lineares passivos — os grampos — sendo resistentes á flexão composta, sendo útil, por exemplo, na estabilização de taludes e escavações.

A técnica funciona assim: de maneira inclinada ou horizontal, são enterrados os grampos no maciço. Estes costumam ser tubos de aço envolvidos por calda de cimento ou barras. Nesse sentido, a ideia do solo grampeado é atenuar os deslocamentos do maciço do solo.

Muro de contenção de flexão

Os muros de flexão são compostos por uma armadura, visando a resistência ao solo. Um dos tipos é o concreto armado, que contém uma parede e uma sapata corrida, além do preenchimento do muro ser feito com concreto. Outro tipo é o bloco armado, composto por blocos de alvenaria estrutural, preenchidos com graute armado.

Muro de contenção de gravidade

Fazer oposição aos esforços horizontais de empuxo que atuam de modo perpendicular sobre a face da estrutura de contenção: este é o objetivo principal do muro de contenção de gravidade. Alguns modelos dessa estrutura de contenção incluem:

• muros de alvenaria de pedra;
• muros de concreto à gravidade;
• muros em fogueira;
• muros de sacos de solo-cimento;
• muros solo-pneus;
• muros de gabiões.

Os gabiões são estruturas feitas de malhas metálicas preenchidas com pedras ou outros materiais granulares. Eles são utilizados em taludes, margens de rios e outras áreas onde é necessário reforçar a estabilidade do solo, que sejam drenantes e tenham capacidade de se acomodar a recalques diferenciais.

Segundo Flávio, todos têm a sua relevância e o porquê de serem aplicados. “Em relação à contenção com gabião, trata-se de contenções à gravidade (peso próprio), que são estruturas robustas, monolíticas, flexíveis, drenantes e de baixo impacto ambiental.”

Quais são as vantagens da contenção com gabião?

A primeira característica benéfica que podemos citar do gabião é a sua resistência. Esse tipo de obra de contenção permite suportar grandes pressões e movimentos de terra. Além disso, os materiais utilizados são duráveis e não sofrem degradação significativa ao longo do tempo.

A seguir, vamos apresentar outras vantagens importantes do gabião. Confira!

Flexibilidade

Os gabiões são flexíveis porque podem ser adaptados a diferentes condições geotécnicas e topográficas, incluindo encostas íngremes, curvas e irregularidades do terreno. Essa flexibilidade é especialmente útil em ambientes instáveis e sujeitos a movimentos de massa, e permite que a estrutura acomode esses movimentos sem ter a sua estabilidade comprometida.

Drenagem eficiente

As malhas metálicas dos gabiões e o seu material de preenchimento permitem a livre circulação da água pela sua estrutura, o que possibilita uma drenagem eficiente do excesso de água presente no solo, evitando o acúmulo de pressão hidrostática e reduzindo o risco de erosão.

Estética e integração ambiental

Os gabiões podem ser preenchidos com pedras ou outros materiais disponíveis localmente e que sejam adequados à sua aplicação. Isso faz com que eles se adaptem visualmente ao ambiente, apresentando uma aparência natural e harmoniosa.

Além disso, é possível integrar os gabiões com a vegetação nativa ou plantada, contribuindo para a integração paisagística e uma melhor camuflagem da estrutura — o que é importante porque evita a sensação de uma construção artificial.

Facilidade de construção e manutenção

A construção dos gabiões é relativamente simples. As malhas metálicas são montadas e fixadas em posição, formando cestas ou caixas, que são preenchidas com os materiais granulares adequados. Após preenchidos, os gabiões são fechados e amarrados para garantir a estabilidade da estrutura.

Essa simplicidade de construção reduz o tempo e os custos envolvidos na sua implementação. Outros procedimentos importantes ligados à manutenção do gabião incluem inspeções regulares e reparos localizados.

No primeiro caso, às vezes, é preciso fazer reparos nas malhas metálicas, sob o risco de ocorrer a erosão do material de enchimento ou movimentos de terra adjacentes. No segundo procedimento, pode ser necessário fazer reparos em partes específicas do gabião, o que inclui, por exemplo, a substituição de pedras, o reparo nas malhas metálicas ou o reforço da estrutura onde for necessário.

Custo-benefício

Como dissemos, a facilidade de construir e manter um gabião ajudam na questão do custo-benefício. Outro ponto que justifica o seu uso é que os materiais necessários na construção dessa estrutura de contenção são relativamente acessíveis e amplamente disponíveis.

Além disso, as malhas metálicas são fabricadas em grande escala e podem ser compradas a preços razoáveis. Por estarem disponíveis no próprio ambiente de construção, os materiais de preenchimento do gabião ajudam a economizar tempo e dinheiro com o transporte.

A construção do gabião, vale destacar, não requer equipamentos ou técnicas modernas. Na prática, tanto a malha metálica quanto o enchimento são estabelecidos no ambiente por meio de ferramentas básicas ou manualmente.

Como fazer o acompanhamento técnico das obras de contenção?

Entre as considerações específicas necessárias na obra de contenção, Flávio destaca a compreensão do problema técnico a ser solucionado e o uso de dados precisos e confiáveis. Como exemplos, ele cita a sondagem, a topografia e os ensaios laboratoriais.

Também é preciso entender as particularidades e as limitações do local, como fornecedores, matéria-prima, mão de obra e logística. O especialista aponta, ainda, os recursos financeiros e o prazo disponível — enfim, uma leitura completa de todos esses pontos, para que, assim, seja possível escolher qual é o melhor tipo de estrutura que vai atender o projeto por completo ou da melhor forma.

De acordo com o entrevistado, “toda e qualquer obra de engenharia deve ser acompanhada e ter a orientação/supervisão de um profissional capacitado e apto para desempenhar tal função. O acompanhamento técnico da obra é importante para garantir que ela atinja os objetivos técnicos especificados em projeto com exatidão, bem como o cronograma físico e financeiro”.

De que forma o acompanhamento técnico contribui no cumprimento dos prazos do projeto?

Com base na fala de Flávio, fica bastante claro que o acompanhamento ajuda a evitar atrasos na obra e o descumprimento dos prazos. Quando há um profissional capacitado, ele pode avaliar todos os materiais e custos envolvidos, evitando imprevistos e outras situações que possam comprometer a boa qualidade do trabalho.

“Como estamos falando de estruturas de contenção, é preciso saber se elas vão, de fato, atender ao propósito. No caso dos gabiões, eles devem ser, por exemplo, flexíveis e ter boa drenagem”, afirma o engenheiro.

Ainda sobre o acompanhamento, o engenheiro afirma que as obras de contenção envolvem etapas construtivas que vão desde o projeto, a preparação do terreno e a execução da estrutura (seja qual for a solução adotada) até o seu desfecho com ações complementares, para garantir a funcionalidade da solução.

Segundo ele, “é fundamental que ocorra o acompanhamento nas obras de contenção desde o início, garantindo que cada etapa do projeto seja executada com a técnica adequada, qualidade e segurança, evitando, assim, falhas construtivas e mitigando possíveis riscos associados à obra”.

O que considerar nesse acompanhamento?

Na prática, a primeira coisa a ser considerada nesse acompanhamento é ter o mínimo de entendimento teórico sobre os muros de gravidade. Além disso, é essencial compreender a técnica, saber o porquê do seu uso e quais são os ganhos técnicos quando utilizado o gabião como material construído.

O segundo ponto a ser considerado é a necessidade de fazer uma análise do projeto da obra, estudando o que foi especificado pelo projetista. A ideia é que seja possível ter uma leitura clara da obra a ser realizada e de como os gabiões deverão ser executados para garantir o sucesso do trabalho.

Dito isso, a dica de Flávio é inspecionar os gabiões e ver se eles estão de acordo com as normas técnicas brasileiras, especialmente a NBR 8964, a NBR 10514 e a NBR 15575

Importância de seguir as boas práticas e as recomendações do fabricante

Outra recomendação importante dada pelo entrevistado é com relação a orientar-se pelas boas práticas e recomendações dos fabricantes quanto à forma de montar, preencher e amarrar os gabiões. Por fim, ele recomenda a escolha correta das pedras de preenchimento, com base na tipologia e na dimensão do material.

É importante deixar claro o seguinte: não é que o acompanhamento técnico ajudará a escolher o melhor tipo de estrutura. Pelo contrário, recomenda-se que toda obra de contenção tenha um projeto ou memorial descritivo (https://blog.belgo.com.br/construcao-civil/memorial-descritivo/) que aponte o tipo de estrutura de contenção que será usado. O acompanhamento técnico, completa Flávio, só virá depois.

O que a legislação diz sobre o assunto?

Sobre a legislação, Flávio pontua que:

“pela Lei Federal 6.496/77, faz-se necessário a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Trata-se de um documento legal que é exigido na elaboração de projetos, execução de obras e serviços e consultoria, independentemente do nível de atuação do profissional. Esse documento define para a sociedade os responsáveis técnicos pela atividade prestada e identifica os serviços contratados, definindo a autoria e os limites da responsabilidade do contratado e contratante”.

Quais são os principais erros na escolha das estruturas de contenção e como evitá-los?

Ainda segundo Flávio, os principais erros em uma obra de contenção são o desconhecimento e o desrespeito ao projeto e ao memorial descritivo da obra. Ele cita, também, a utilização de materiais não normatizados e fora das especificações, bem como o encobrimento e a omissão dos erros construtivos.

Existem outras falhas que podem comprometer a integridade de uma obra de contenção, como não ter quaisquer informações técnicas e confiáveis sobre o local da obra, além do desconhecimento das informações regionais e da escolha da técnica errada para a resolução do problema.

Não contar com profissionais capacitados

Esses erros podem ser evitados se forem respeitadas e executadas as boas práticas da engenharia. Nesse sentido, Flávio cita como exemplo a contratação de profissionais capacitados, com critérios técnicos, para a escolha de prestadores de serviços e fornecedores.

“As consequências podem ser técnicas, neste caso, com a resolução parcial ou total do problema que originou a necessidade da obra de contenção. Mas há as consequências de relevância e impactos mais sérios, como riscos à segurança e vida das pessoas, danos ambientais, comprometimento de edificações e estruturas próximas à contenção, assim como prejuízo financeiro, retrabalho e tempo despendido nesta obra”, destaca Flávio em relação aos erros cometidos no acompanhamento da obra (https://blog.belgo.com.br/construcao-civil/acompanhamento-da-obra/) de contenção.

Casos públicos com problemas nas obras de contenção

Por questões éticas e jurídicas, o entrevistado afirma que não pode apontar ou listar obras públicas ou privadas sem que as partes envolvidas tenham se manifestado. Mas ele continua dizendo que “infelizmente, ainda encontramos, nas cidades brasileiras, obras de contenção com falhas, sejam elas em relação ao projeto, material ou execução (e até pela sua não execução), que causam diversos problemas à sociedade e ao meio ambiente, sendo tema constante de noticiários e com impactos negativos no nosso dia a dia”.

Responsabilidade do profissional que acompanha as obras de contenção

Se houver algum problema na obra, o profissional deve ser responsabilizado de acordo com a sua autonomia e responsabilidade (https://blog.belgo.com.br/construcao-civil/responsabilidade-social-na-engenharia/) , na visão de Flávio. Ele conclui dizendo que a pessoa poderá responder ao seu conselho profissional, e também civil e/ou criminalmente — tudo a depender das consequências dos problemas causados.

Como vimos ao longo deste conteúdo, as obras de contenção são essenciais para evitar situações adversas e riscos às pessoas e ao ambiente. O acompanhamento técnico é crucial nesse processo e aumenta as chances de o projeto alcançar o objetivo proposto.

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