Você já se perguntou a respeito da importância da estabilização de maciços terrosos? De quais formas esse procedimento pode auxiliar a construção civil? Quais são os detalhes que exigem mais atenção ao elaborá-lo?
Como esse tema tem bastante relevância para quem atua na área, conversamos com a Professora Doutora Denise de Carvalho Urashima, que é engenheira civil especializada em Geotecnia. Aproveite as informações ao longo do texto!
O que são maciços terrosos?
De acordo com a especialista, maciços terrosos são formados por partículas ou agregados minerais não cimentados (partículas sólidas), resultantes da ação do intemperismo em rochas e minerais expostos. Eles também podem conter matéria orgânica deteriorada, com líquido e gás nos espaços vazios entre as partículas sólidas.
Ou seja, um maciço terroso é um local onde havia rochas expostas ao clima — chuvas e variações de temperatura, por exemplo —, à presença de vegetação e à interferência de organismos vivos. Aos poucos, as rochas passaram por um processo de alteração mineralógica, sofrendo com a perda de determinadas características e, principalmente, de resistências mecânicas.
Portanto, no contexto do solo residual, maciços terrosos quase sempre representam um local de menor competência e menor resistência mecânica quando comparado ao maciço rochoso.
Qual é a relação entre maciços terrosos e taludes?
Denise explica que, para entender a relação entre ambos, é preciso definir o que é um talude. De forma bem resumida, ele é um plano inclinado composto por solo que pode ser de origem natural — também denominado como encosta — ou artificial, quando feito por obras de terra, isto é, cortes ou aterros que geram planos inclinados constituídos por solo.
A estabilização cumpre o papel de proporcionar um novo estado de equilíbrio para as tensões envolvidas. O processo pode se associar às funcionalidades de reforço, retenção e suporte.
É válido lembrar que os movimentos de massa gravitacionais e agravantes referentes à presença de água, como a chuva, podem causar escorregamentos, deslizamentos, tombamentos e outros movimentos gravitacionais que implicam riscos. O início de tais movimentos está frequentemente atrelado ao desconfinamento lateral do maciço (alívio de tensões), pela ação de sobrecargas, aplicação de vibrações e/ou choques, ação da água, entre outros fatores ligados às particularidades da geologia local.
Nesse sentido, é fundamental ter atenção à coesão e ao ângulo de atrito característicos do solo, visto que esses parâmetros influenciam diretamente a resistência ao cisalhamento do solo, fator relacionado à estabilidade do talude.
Dessa forma, quando o maciço terroso não está estável, sua ruptura torna-se provável. Em solos tropicais, como é o caso da maior parte do território brasileiro, a ruptura mais frequente é a circular.
Apesar disso, esses problemas não são motivados apenas por ações antrópicas ou provocadas pelo homem — eles também ocorrem de maneira natural.
Por que se preocupar com a estabilização de maciços terrosos?
Segundo Denise, em termos conceituais, um talude levado a uma situação de instabilidade, natural ou artificial, ocasiona uma condição de risco por unir dois elementos: a suscetibilidade e a vulnerabilidade. Ambos podem ser potencializados pela probabilidade de eventos climáticos adversos, como grande volume de precipitação, comum em muitas regiões do país.
A condição de risco — social, ambiental ou econômica —, devido à instabilidade de taludes, está intrinsecamente ligada ao emprego de maciços terrosos suscetíveis a desastres. Isso acontece por conta de uma condição geológico-geotécnica propícia e de determinados padrões construtivos, cuja vulnerabilidade pode aumentar, causando a ruptura.
Portanto, é imprescindível analisar os fatores de segurança envolvidos, que podem ser monitorados na relação do esforço resistente com o esforço solicitante.
A norma ABNT NBR 11682:2009 (Estabilidade de encostas) descreve esse fator como sendo de 1,5, no mínimo, para um grau de segurança alto; 1,3 para um grau de segurança médio e 1,15 para um baixo grau de segurança. Fatores de segurança menores podem ser adotados, desde que sejam justificados. Tratando-se de taludes artificiais, não se deve ultrapassar a altura de 6,0 m para alcançar um grau de segurança satisfatório.
Na prática, as consequências do descuido da estabilização significariam a modificação da geometria do talude por deformações excessivas ou em virtude do escorregamento ao longo de uma superfície ou zona de concentração de deformações cisalhantes.
É necessário ressaltar que os impactos gerados pela instabilidade de maciços podem atingir proporções catastróficas, tanto do ponto de vista social, com a perda de vidas, quanto em questões econômicas e ambientais.
Quais fatores influenciam a estabilização de taludes?
Denise destaca que a estabilização de taludes não se resume à condição geológico-geotécnica, como a existência de substrato (subjacente) impermeável (rocha), que sob ação da água nas camadas sobrepostas (solo) faz a água atuar como uma espécie de lubrificante, facilitando a desestabilização do talude.
É claro que grandes calamidades podem se originar a partir de acontecimentos do tipo. O caso ocorrido em 2010 na Praia do Bananal, na Ilha Grande, exemplifica isso.
No entanto, também é preciso considerar as relações entre ocupação do solo e os riscos associados, que ajudam a entender por que é fundamental subsidiar ações de planejamento. Afinal, algumas condições fazem com que a água fique retida no solo, permitindo que a força da gravidade supere a força de atrito atuante no talude.
A especialista menciona que são vários os fatores que podem levar à desestabilização de taludes, como:
- declividade;
- alturas excessivas de cortes;
- execução inadequada de aterros;
- falta de cobertura vegetal (por razões naturais ou antrópicas);
- despejo de resíduos sólidos urbanos;
- eventual tremor de terra;
- drenagem inadequada ou inexistente;
- vazamentos na rede de abastecimento de água ou de esgotamento (por exemplo fossas), entre outros.
Como as ações humanas realizadas no meio são muito relevantes, é essencial promover o disciplinamento do uso do solo, a fiscalização e o monitoramento das intervenções antrópicas no meio físico, para que sejam realizadas de maneira adequada.
Em um contexto maior, é necessário fazer a remoção de moradias e a relocação das famílias quando constatadas situações críticas de extremo risco de acidentes por desestabilização de taludes.
Enfim, como você viu, a importância da estabilização de maciços terrosos é inegável e deve ser acompanhada com bastante atenção.
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Excelente!